segunda-feira, 23 de julho de 2012

O mundo como esboço rudimentar de um deus infantil (Jorge Luis Borges-Literatura argentina)



“Sabidamente não há classificação do universo que não seja arbitrária e conjectural. A razão é muito simples: não sabemos o que é o universo. “O mundo”, escreve David Hume, “talvez seja o esboço rudimentar de algum deus infantil que o abandonou  pela metade, envergonhado de seu trabalho deficiente, é obra de um deus subalterno, de quem os deuses superiores zombam; é a confusa produção de uma divindade decrépita e aposentada, que já morreu. É possível ir mais longe; é possível suspeitar de que não haja universo no sentido orgânico, unificador, que tem essa ambiciosa palavra. Se houver, falta conjecturar sobre seu propósito; falta conjecturar sobre as palavras, as definições, as etimologias, as sinonímias do secreto dicionário de Deus. A impossibilidade de penetrar no esquema divino do universo não pode, contudo, dissuadir-nos de planejar esquemas humanos, embora nos conste que estes são provisórios.

JORGE LUIS BORGES. Livro Outras Inquisições. Companhia Das Letras, páginas 124, 125

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